quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Dízimo é uma obrigação do cristão?


O Dízimo é uma obrigação do cristão?
Antes de escrever sobre esse assunto, quero deixar claro que creio que há verdadeiros cristãos que amam a Bíblia, que são contrários ao dízimo. Não creio que todos que sejam contrários à prática o façam por não quererem dar dinheiro a igreja, alguns podem ser até mesmo mais generosos do que aqueles que são defensores do dízimo. Lógico que existem questões fundamentais, que aqueles que as negam não poderiam de modo algum ser considerados cristãos, não creio que o dízimo esteja entre essas questões fundamentais, porém vou tentar demonstrar aqui que quem se posiciona contrariamente ao dízimo está errado.

Para alguns, pode parecer estranho que haja cristãos que dizem que a prática do dízimo está errada, mas não podemos ignorar que o argumento deles tenha algum peso. De modo geral, aqueles que são contra a prática do dízimo o são, pois consideram que, na Nova Aliança, após a morte e ressureição de Cristo não há mandamento que diga que os cristãos devem pagar o dízimo e somente que eles devem pagar ofertas e, portanto os cristãos não estão mais sobre a obrigação de pagar os dízimos.
De modo geral, para se chegar a essa conclusão deve-se ter o seguinte pressuposto em mente, eu só tenho obrigação de cumprir algo se estiver confirmado no novo mandamento. Será que Cristo revogou a lei? Não foi isso que Ele disse no sermão em que demonstrou a correta interpretação dela “Não penses que vim revogar a lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.” (Mateus 5.17-18). Devemos compreender a divisão que os teólogos fazem em relação a lei.
Lei cerimonial: Relacionados aos sacrifícios e a separação do povo de Israel dos demais povos, foi cumprida em Cristo e estamos livres delas, eram sombras que apontavam para a Cristo. (Você pode compreender melhor isso estudando a epístola aos Hebreus).
Lei Cívil: Lei do estado teocrático de Israel, não somos mais cidadãos do estado de Israel, essa lei pode ser usada como modelo para o desenvolvimento de um governo civil, mas é para ser aplicado por governos e não pela igreja, apenas ao estado (Rm 13.1-6) foi dado o poder da espada (de aplicar a pena capital, ou seja pena de morte) e não a igreja.
Lei Moral: Estamos sobre obrigação de seguir essa lei, fomos salvos para andar segundo ela (Ef 2.10, Ti 2.14, Jo 14.15, 1 Jo 2.3-4, 1 Jo 5.2-3).
É importante compreendermos que a lei moral não é só aquilo que está prescrito no Novo testamento. Por exemplo, você acha imoral fazer sexo com um animal? E casar com sua irmã, irmão, tio, ou tia? O novo testamento não proíbe esse tipo de coisa, apenas o antigo testamento, se pensarmos que apenas o que tá no novo vale para nós não podemos considerar imoral nenhuma dessas coisas.
Portanto, a menos que o dízimo seja considerado como lei cerimonial ou civil ou que esteja implícito no novo testamento que não devemos dar o dízimo não poderíamos considerar que ele não seja mais obrigatório.
Podemos afirmar de maneira clara que ele não faz parte da lei civil, já que ele já era dado antes de Moisés. Vemos que Abraão pagou o dízimo a Melquisedeque (Gn 14.18-20).
Porém poderia o dízimo ser considerado uma lei cerimonial? O dízimo sustentava os sacerdotes, que estavam ligados ao templo, poderíamos por isso dizer que o dízimo não é mais obrigatório? Se considerarmos o mesmo exemplo anterior, podemos dizer que antes de existir o sacerdócio levítico já existia o dízimo. É correto que também existia a circuncisão e os sacrifícios, mas essas coisas foram claramente modificadas, a circuncisão pelo batismo e os sacrifícios apontavam claramente para Cristo. Não podemos dizer o mesmo sobre os dízimos, não há nenhuma advertência no Novo Testamento de que seria errado os cristãos fazerem isso.
Além disso, há algo que Paulo fala muito útil para dizermos que o dízimo ainda é válido, lembre que ele falou isso sobre a Nova Aliança:
“Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira sustento” (2 Coríntios 9.13)
Apesar de alguns cristãos invalidarem o Antigo Testamento, não é essa a atitude Paulo para com o Antigo Testamento, como não foi a atitude de Cristo e nem de nenhum dos apóstolos. Além disso, Paulo está defendendo o direito daquele que prega viver apenas de pregar o evangelho. Se ele tem o direito de viver de pregar o evangelho, donde ele tirará o sustento? Os que serviam no templo eram sustentados pelos dízimos, será que considerando o exemplo de Paulo não deve ser essa a forma de sustento de quem vive do evangelho?
Além disso Paulo ensina cada um a contribuir segundo tiver proposto no coração (2 Cor 9.7) e segundo nossas posses (2 Cor 8.11), tendo que estipular um valor você prefere confiar em sua própria sabedoria ou naquilo que o próprio Deus estabeleceu?
Por último, acho importante lembrarmos de uma advertência de Cristo:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!(Mt 23.23)
Cristo não diz que dar o dízimo era errado, mas apenas que isso não é a coisa mais importante. Devemos fazer isso sem esquecer as coisas mais importantes.
Uma defesa bem mais elaborada poderia ser formulada, mas acho que esses princípios aqui são importantes para entendermos que o dízimo ainda é uma obrigação do cristão. Quando fazemos isso declaramos que tudo pertence ao Senhor, apenas devolvemos a Ele uma parte. Além disso 10 por cento deveria ser o mínimo a ser considerado, se não damos nem isso para sustentar a obra d’Ele será que poderíamos considerar que temos dado prioridade ao seu Reino (Mt 6.33). Se você acha que não é correto dar os dízimos somente pense sobre isso.
PS: Após ter escrito esse post encontrei esse texto que indico no link abaixo do Pb. Solano Portela, com bons argumentos em defesa do dízimo. Não modifiquei meu texto depois de ter lido esse, apenas acrescentei uma referência bíblica a mais.
Além do link acima acho importante ver o que o Pb. Solano Portela escreveu em um comentário no blog, no qual ele é um dos escritores, segue abaixo.

Resumindo minha posição sobre o dízimo:   

1. A contribuição proporcional antecede a lei civil e judicial de Israel. Aparentemente, pelos registros bíblicos, o costume era uma prática do povo de Deus e das pessoas tementes a Deus na época dos patriarcas.     
2. Logicamente, a prática foi incorporada na legislação de Israel. Junto com seu caráter mandatório, foram estipuladas outras contribuições e taxas. O entrelaçamento, da época, entre o governo civil e as autoridades religiosas (normal, pois era uma teocracia) faz com que essas taxas fossem também os impostos para a manutenção do governo, mas não excluiu os aspectos sacramentais, simbólicos e religiosos - de reconhecimento de Deus como o dono de tudo e de todos e nós como mordomos seus.           
3. Quem fizer defesa de dízimo baseado na legislação mosaica, o faz equivocadamente e, por coerência, deveria advocar o apedrejamento de quebradores do dia de descanso, bem como as leis dietéticas. Até a utilização da expressão "trazei todos os dízimos à casa do tesouro" aplicada anacronicamente aos nossos dias, é questionável e não reflete uma boa hermenêutica - a não ser para o explorar o princípio que estava por trás disto.     
4. Por outro lado, considerando que a prática da contribuição proporcional não foi iniciada nesse período, há de se questionar se o seu abandono é algo a ser defendido, propagado, pregado. Ou seja - será que isso contribui para o bom andamento da Igreja?
5. Indo ao Novo Testamento, não vemos revogação do princípio da contribuição proporcional, nem pregação contra ele, nem indicação de que ele se constituiria em uma forma legalista de adoração. Pelo contrário, em algumas situações (coloco essas questões mais extensivamente no meu artigo) Paulo utiliza a linguagem de prática de contribuição proporcional, como sendo uma forma a ser seguida pelos fiéis.
6. Além disso, no próprio Novo Testamento, o autor de Hebreus, quando faz referência ao incidente de Abraão, para ressaltar a ascendência de Melquisedeque sobre a Lei Ceirmonial do AT, demonstrando a permanência do sacerdócio de Cristo, faz menção à dádiva do dízimo. Por que essa referência? Se o dízimo é algo que não é importante; que deve, na realidade, ser abolido; que pertence apenas "à época da lei", por que ressaltar a dádiva, apenas confundindo seus leitores? Ou será que era, realmente, importante mencionar coo algo que está acima da lei cerimonial?
7. Ainda no NT, Jesus não prega contra o dízimo e, na realidade, reforça ele, dirigindo-se aos Fariseus.           
8. A prática de ofertas voluntárias não poderia ser, na minha opinião, a contrapartida neo-testamentária ao dízimo, pois elas já existiam, igualmente, no antigo testamento (desenvolvo, também, com maior substanciação, esse ponto - de ofertas no Antigo Testamento, em meu artigo). No meu entendimento, as ofertas são algo acima e que transcendem uma sistematização no dar.    
9. Se considerarmos etimologicamente a designação da contribuição proporcional (dízimo), vamos cair nos dez por cento. Será possível estabelecermos outro padrão? Cinco por cento? Dois por cento? Trinta por cento (como ouvi um pregador, certa vez, dizer que era assim que ele fazia e quase procurar impingir isso como ideal)? Talvez, mas isso não terá uniformidade ou aceitação abrangente e terminaríamos em um individualismo subjetivo. Como poderia ser proporcional, se os percentuais variassem de comunidade para comunidade, ou até dentro da mesma comunidade? Temos, realmente, que "inventar" algo novo?           
10. Posso até concordar que essa questão, por não ser determinação neo-testamentária explícita, talvez não devesse ser alvo de legislação denominacional ou eclesiástica, ficando no foro íntimo. Mas me parece que a idéia da contribuição proporcional:     
a. É Bíblica.    
b. Auxilia o homem, indisciplinado por natureza, a se organizar a sistematizar a sua contribuição.       
c. Faz com que as comunidades (vejam, estou sucumbindo à terminologia contemporânea) e igrejas locais reflitam o poder aquisitivo dos congregados e tenham condições de planejar e projetar suas ações e ministérios.
d. A contribuição sistemática alegra a Deus e não impede que contribuamos com alegria (será que todo o povo de Deus no AT, onde não há dúvida que o dízimo era requerido, contribuía por constrangimento, sem alegria? De onde tiramos essa noção, de que sistematização significa escravidão?);e. Assim, mesmo sem se constituir ponto de julgamento de um sobre o outro, ou da igreja sobre o um, deveria ser pregada e propagada dos púlpitos, como um estudo bíblico válido e aplicável.

Autor: Ivan Junior

7 comentários:

  1. Deus o abençoe, muito importante para os nossos dias.

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  2. Devo ver com naturalidade pastores da Igreja que frequento realizarem viagens constantes com suas famílias, muitas delas para o exterior, terem carros com valores acima da média, morarem em áreas nobres da cidade ? Isso não me parece justo, pois uma coisa é o pastor ter que tirar seu sustento do altar, outra é ter um padrão de vida que nem de longe Jesus teve, muito menos eu. Almada

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    1. O Pastor não deve explorar sua igreja. Veja Ez 34.

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    2. Colocação, perfeita. Ass. Em baixo. Alguns acabam exagerando.

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  3. Garoto, continue com o seu blog que tem sido benção em minha vida!!!

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  4. Aonde o capitalismo impera, fica bem difícil as pessoas reconhecerem a Deus e entenderem o significado"puro" do dizimo.

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