domingo, 10 de março de 2013

Pregação Jeremias 7.1-15


Texto base
Jeremias 7.1-15

-Introdução
Se fossemos olhar para uns 50 anos atrás, perceberíamos que ser “evangélico” não era muito fácil. Porém nos últimos anos, a Igreja evangélica experimentou um crescimento exponencial. Porém, apesar de os evangélicos representarem grande parte da população, e haver inclusive previsão de que eles se tornem a maioria da população, as coisas pouco mudaram. Não percebemos uma mudança no nível de corrupção, prostituição, idolatria no nosso País. A chamada bancada evangélica está grandemente envolvida em escândalos de corrupção. No entanto, muitas pessoas que não influenciam em nada a nossa sociedade estão lá todo domingo enchendo as Igrejas, cantando, orando e como “nada há, pois, novo debaixo do sol” (Ec.1-9) perceberemos que Jeremias viveu em tempos semelhantes e como  “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” (Rm 15.4) vamos aprender com o profeta.

-livro e autoria – o livro de Jeremias ganha seu título de seu autor humano, Jeremias.
Jeremias serviu como profeta e sacerdote, era filho do sacerdote Hilquias. Era da pequena vila de Anatote. Era assistido em seu ministério por Baruque, um escriba, que copiava e cuidava das mensagens proféticas. Conhecido como profeta chorão viveu uma vida de conflito por causa de suas previsões de julgamento pela invasão dos babilônios. Passou por ameaças, humilhações.
Teve seu ministério no período do 13º ano do rei Josias (627 a.C) até além da queda de Jerusalém pela Babilônia em 586 a.C. Seu ministério se focou principalmente sobre a nação de Judá. O texto lido é o início do terceiro de 14 discursos que falam sobre a destruição de Judá, esse discurso vai até o fim do capítulo 10.
-Verso 1-2
O templo tem várias portas, Jeremias provavelmente se colocou na porta do átrio interior, o mesmo lugar onde Baruque leu as palavras de Jeremias. A mensagem, como boa parte do livro de Jeremias foi endereçada ao povo de Judá, o que indica que provavelmente essa mensagem foi dada em um dia festivo como a páscoa, pentecostes ou festa de tabernáculos quando todos os homens de Israel apareciam no templo.
-Verso 3
Emendai os vossos caminhos” ou “corrigi a vossa conduta” como diz a NVI. Essa era a condição necessária para que o povo continuasse habitando em Israel, o que nos leva a concluir que caso eles não cumprissem com isso eles seriam levados pro exílio. A habitação do Povo em Israel sempre foi condicional a obediência deles “Porém, se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido, e te inclinares a outros deuses, e os servires,  então, hoje, te declaro que, certamente, perecerás; não permanecerás longo tempo na terra à qual vais, passando o Jordão, para a possuíres.” (Deuteronômio 30.17-18)

-Verso 4
Percebemos que apesar de viver no pecado o povo confiava no templo, a tripla repetição pode ser só para dar ênfase. Alguns a consideram como se referindo as três regiões do templo, outros como as três ocasiões anuais em que os judeus compareciam no templo. A confiança no ato de ir e louvar a Deus no templo do senhor são as palavras falsas, porque o povo falhava ao colocar sua confiança no templo, em seus atos religiosos, seus sacrifícios. Isaías nos fala de uma situação semelhante “Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados. Mesmo neste estado, ainda me procuram dia a dia, têm prazer em saber os meus caminhos; como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus, perguntam-me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus, dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?” (Isaías 58.1-3)
-Versos 5 a 7
Jeremias enfatiza o que é necessário para que o povo habite na terra prometida, já que a promessa de permanência na terra era condicional. Primeiramente ele fala da responsabilidade do povo para com o estrangeiro que não devia ser oprimido, o órfão e a viúva (como a Bíblia nos ensina que a família tem um papel importante, era uma obrigação moral de cada um cuidar daqueles que perderam a proteção da família). Nem derramardes sangue inocente, para entendermos isso temos de compreender que isso pode se referir ao fato do templo também ser usados para julgamentos e muitas vezes os inocentes serem condenados, pois o verso 5 fala de praticardes a justiça, isso não significa necessariamente que pessoas eram assassinadas no templo.
Podemos compreender nesses versos algo que Calvino diz “os sacrifícios não tem importância ou valor diante de Deus, a menos que aqueles que o oferecem devotem a si mesmos a Deus com um coração sincero”
-Verso 8
Jeremias volta a falar da falsa confiança dos judeus nos seus atos religiosos, aquilo que ele já falou no verso 4, esses eram inúteis quando acompanhados do pecado “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? — diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.” (Isaías 1.11)
-Versos 9 a 11
Jeremias mostra que o povo de Israel quebrava vários dos seus mandamentos, tanto mandamentos que se referem ao nosso tratamento com o próximo (assassinato, roubo, adultério, falso juramento) quanto mandamentos que se referem a nossa relação com Deus (idolatria). O profeta usa o nome Baal para incluir todos os ídolos, e fala de deuses que não conhecestes porque eram deuses que nada fizeram ao povo manifestando-se a eles. Porém depois de fazer tudo isso o povo se aproxima de Deus como se nada tivesse acontecido, na casa “que se chama pelo meu nome” e creem que os atos religiosos, os sacrifícios deles são suficientes para salvá-los e permitir que eles continuem vivendo nas abominações que eles viviam. Desse modo o Senhor mostra que o Templo tornou-se apenas um esconderijo, onde pessoas que cometiam toda sorte de abominações se sentiam seguras, um “covil de salteadores”. Porém Deus deixa claro a tolice deles ao lembrar que ele estava vendo todas essas coisas, quão tolo eram os judeus de cometer todo tipo de pecado e achar que estavam seguro diante do “Juiz de toda terra” (Gênesis 18.25).
Um exemplo pode nos ajudar a entender toda situação de desprezo do povo para com Deus, imaginem um marido que cuida muito bem de sua esposa, porém essa esposa se prostitui com todos os vizinhos dele, mas quando o marido está em casa ela o serve muito bem como se nada tivesse acontecido, e busca o dinheiro do marido para continuar se prostituindo. “Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas, ainda assim, torna para mim, diz o SENHOR.” (Jeremias 3.1) Porém Deus é muito mais que um esposo, pois ele sabe tudo que fazemos e é tolice tentar se esconder d’Ele.  “Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? — diz o SENHOR; porventura, não encho eu os céus e a terra? — diz o SENHOR.” (Jeremias 23.24)
- Versos 12 a 15
Para mostrar a tolice do comportamento dos judeus, Jeremias usa um exemplo. Ele fala de Siló, uma cidade da tribo de Efraim ao norte de Betel. Siló era onde ficava o tabernáculo, a arca do Senhor e o altar. Porém a arca não protegeu o povo, a cidade foi destruída pelos filisteus e a arca levada. “Pois o provocaram com os seus altos e o incitaram a zelos com as suas imagens de escultura. Deus ouviu isso, e se indignou, e sobremodo se aborreceu de Israel. Por isso, abandonou o tabernáculo de Siló, a tenda de sua morada entre os homens, e passou a arca da sua força ao cativeiro, e a sua glória, à mão do adversário. Entregou o seu povo à espada e se encolerizou contra a sua própria herança. O fogo devorou os jovens deles, e as suas donzelas não tiveram canto nupcial. Os seus sacerdotes caíram à espada, e as suas viúvas não fizeram lamentações.”(Salmo 78.58-64). Em Jeremias 26 (como a ordem do livro não é necessariamente cronológica pode se referir ao mesmo discurso) vemos que o povo ficou revoltado por Jeremias ter usado esse exemplo. “Por que profetizas em nome do SENHOR, dizendo: Será como Siló esta casa, e esta cidade, desolada e sem habitantes? E ajuntou-se todo o povo contra Jeremias, na Casa do SENHOR.” (Jeremias 26.9). A ideia é que a própria história mostra a insensatez da confiança que os judeus tinham.
E visto que vocês persistem nessas obras de injustiça, ainda que “eu vos falei, começando de madrugada” ou seja, tenho enviado profetas que vos mostram isso desde o início da história do povo de Israel e mesmo assim vocês se mantém rebeldes. Vocês não têm desculpa, não podem dizer que não foram informados do modo ímpio o qual vocês têm vivido. Por isso farei ao templo e ao lugar que habitam (cuja habitação como dita anteriormente era condicional) como fiz a Siló.
Lançar-vos-ei” Jeremias profetiza o cativeiro ao povo de Judá, que assim como as nove tribos já tinham sido levadas cativas o mesmo também aconteceria Judá. Efraim era a principal tribo de Israel e por isso simboliza todas as nove tribos que já tinham sido levada cativas. “No ano nono de Oséias, o rei da Assíria tomou a Samaria e transportou a Israel para a Assíria; e os fez habitar em Hala, junto a Habor e ao rio Gozã, e nas cidades dos medos. Tal sucedeu porque os filhos de Israel pecaram contra o SENHOR, seu Deus, que os fizera subir da terra do Egito, de debaixo da mão de Faraó, rei do Egito.” (2 Reis 17.6-7).

Aplicação
Olhando essas profecias de Jeremias, que se cumpriram já que o povo foi levado cativo, podemos nos pensar “O que nós temos a ver com isso?”, “Eu não sou tolo e ímpio como esses judeus”. “Eu não queimo incenso a Baal”. Porém uma mera observação no modo de vida da maioria daqueles que se dizem cristãos nos mostra o contrário, que ainda que eles sejam religiosos a ponto e estarem semanalmente na Igreja, ainda assim a vida da maioria deles não é nem um pouco diferente dos ímpios.
Talvez, sendo sincero consigo mesmo você pode ser uma pessoa que vê pornografia na internet, desrespeita continuamente seus pais, tem relações sexuais com sua namorada(o) ou com quem ainda nem é seu namorado(a), namora quem não é cristão, se envolve com drogas, consulta o horóscopo, porém chega todo fim de semana você está lá na Igreja, canta ou toca no louvor, prega na Igreja, participa de quase todas as programações e confia também em palavras falsas porque pensa que seus meros atos religiosos podem expiar todos os seus erros para você continuar pecando durante toda semana. Pensa que o fato de estar desde criança na Igreja, ou de ter uma família que trabalha desde a fundação da Igreja pode proteger você.
No dia seguinte a minha colação de grau na Faculdade, teve uma missa e um baile (os quais não participei), os meus colegas de Faculdade postaram a foto deles na missa no facebook e comentaram algo do tipo “fomos pedir perdão pelos pecados que iremos cometer hoje a noite”. Muitas vezes vamos a Igreja com essa mesma mentalidade, apenas para tentar suavizar nossa consciência e não nos sentirmos tão culpados por nossos erros.
Percebam uma coisa, ir ao templo e oferecer sacrifícios era uma obrigação dos judeus, fazer isso não era errado, mas de nada tudo isso adiantava se aquele que oferecia o sacrifício também não tivesse uma vida oferecida a Deus.
Pense consigo mesmo, se todos da Igreja fossem como você a Igreja seria sal e luz ou seria um covil de salteadores?
Vamos abrir nossas Bíblias em um texto que mostra-nos uma situação semelhante a essa:
Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra.  De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? — diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.  Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal.  Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas.  Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse.”
Nesse texto vemos novamente aquilo que Calvino afirmou “os sacrifícios não tem importância ou valor diante de Deus, a menos que aqueles que o oferecem devotem a si mesmos a Deus com um coração sincero” O SENHOR não pode suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene. É tolice pensar que podemos nos esconder diante d’Aquele que irá nos julgar. Porém quando olhamos para Cristo vemos Aquele cujo sacrifício foi acompanhado de uma devoção total de si mesmo diante de Deus. O sacrifício de Cristo foi aceito diante de Deus porque foi acompanhado de uma vida de total obediência e é só por isso que Deus nos diz por meio do profeta Isaías. “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã”. Por meio de Cristo Deus é justo e misericordioso “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5.21). Cumprindo aquilo que vemos no Salmo 85 “Perdoaste a iniqüidade de teu povo, encobriste os seus pecados todos.” (v.2) “Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.”(v.10)
Não sei qual sua situação, não sei se você faz ou não da Igreja um covil de salteadores, não sei se você faz parte ou não do povo de Deus. Mas há esperança para todo aquele que se lança arrependido diante de Deus, não para anestesiar sua consciência para continuar pecando, mas reconhecendo a si mesmo como pecador necessitado da misericórdia de Deus, para esses e somente pela obra de Cristo Ele age como o pai que “levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.” (Lucas 15.20).
Ó Pai guarde-nos de agirmos como tolos e hipócritas e fazermos da tua casa um covil de salteadores, mas que possamos nos aproximar de ti arrependidos, dispostos a sermos servos e a vivermos conforme a tua vontade.
Amém.

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